Relatório
de 2012 diz que produtos teriam de ser retirados para cumprir a lei, o que não
aconteceu. Não há risco para a saúde, apesar da carência de estudos sobre
efeitos da substância.
A
ASAE ainda não apreendeu nem mandou retirar do mercado as bolachas com um tipo
de adoçante cuja utilização não é autorizada pelos regulamentos comunitários
para este género alimentício. O DN foi a dois estabelecimentos de grande
distribuição, ao Continente do Vasco da Gama e ao Pingo Doce do Campo Pequeno,
e não teve qualquer dificuldade em encontrar as bolachas com acessulfame de
potássio, adoçante 200 vezes superior à sacarose.
Este
edulcorante - cujos efeitos para a saúde têm sido alvo de estudos contraditórios,
com alguns a falarem de substância potencialmente cancerígena - está à venda
nas prateleiras de produtos dietéticos. Gullón, Diese e Pura Vida (marca Pingo
Doce) foram as três marcas encontradas pelo DN com aquele aditivo.
A
presença do acessulfame K (potássio) foi detetada no âmbito do Plano Nacional
de Colheita de Amostras (PNCA) de 2012, cuja gestão cabe à própria Autoridade
de Segurança Alimentar e Económica. O relatório do plano, noticiado anteontem
pelo DN, sugere a retirada do mercado destas bolachas, porque infringem a lei.
Mas apesar de o plano da Divisão de Riscos Alimentares da ASAE ter sido feito
em 2012, a Unidade Nacional de Operações do mesmo organismo ainda não atuou. E
o ano de 2013 já vai a meio.
"O
acessulfame K está autorizado para determinados produtos, nomeadamente para
cornetos e bolachas sem açúcar para gelados, bem como para produtos de padaria
fina para alimentação especial, mas não para bolachas", lê-se no
relatório, que cita o regulamento n.º 1333/2008 relativo aos edulcorantes para
utilização nos géneros alimentícios, bem como o Regulamento n.º 1129/2011, da
lista comunitária de aditivos e edulcorantes.
Filipe
Meirinho, diretor de Operações da ASAE, explicou ao DN que ainda não mandou
retirar do mercado as referidas bolachas porque não está em causa um problema
para a saúde. Meirinho colocou o assunto ao nível de falha de rotulagem, cujos
casos são tratados de forma diferente: "Notificámos o operador para
retirar o produto e é instaurado um processo de contraordenação." Mas a
verdade é que a questão não se põe ao nível de irregularidade na rotulagem. A
legislação não autoriza que as bolachas contenham este edulcorante, e é por
isso que estão entre os 174 produtos não conformes do PNCA.
Substância
cancerígena?
Ainda
não é claro o risco para a saúde associado ao consumo deste edulcorante, que
durante alguns anos esteve na lista das substâncias tóxicas, que poderiam
provocar cancro. Saiu dessa lista quando foi aprovado pela FDA (Food and Drug
Administration, o mais prestigiado organismo responsável pelo controle dos
alimentos) como adoçante de mesa e em 2003 aprovado para uso geral em
alimentos.
Mesmo
assim, as opiniões dividem-se, e disso mesmo dá conta o relatório do PNCA:
"Existem diversos estudos, com resultados contraditórios, relativos ao
potencial efeito mutagénico e carcinogéneo deste composto. No entanto, os
estudos que apontaram para a possibilidade do acessulfame ser associado a estes
efeitos apresentam limitações quanto às condições em que foram realizados e os
resultados não foram reproduzidos em estudos subsequentes. Sabe-se, no entanto,
que atualmente a EFSA encontra-se a desenvolver, a pedido da Comissão Europeia,
uma avaliação dos edulcorantes em uso no espaço comunitário."
No
guia da Deco, o acessulfame K figura entre os "Venenos no seu prato",
devido ao seu elevado poder adoçante. Porém, Dulce Ricardo, técnica alimentar
da Deco, explica que pelos "últimos estudos" disponíveis, de 2011,
não se conhecem os efeitos que provoca o consumo deste edulcorante. "A
única referência que temos é do comité toxicológico da ONU, que refere como
dose diária admissível até 15 mg de acessulfame K", disse.
No
âmbito do PNCA foram recolhidas 1782 amostras e analisadas laboratorialmente,
das quais 174 apresentaram não conformidades, o que significa que cerca de 10%
não estavam de acordo com os critérios exigidos. Dos vários grupos de alimentos
analisados, foi o dos cereais que apresentou maior percentagem de não
conformidades (20%), seguido de bebidas alcoólicas (14%), pescado (13%) e carne
(10%).
DN Economia
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