terça-feira, 19 de novembro de 2013

Bacalhau - Industriais do sector apreensivos com a introdução de polifosfatos já em 2014


A introdução de polifosfatos no bacalhau entra em vigor a 1 de Janeiro de 2014. No Cais dos Bacalhoeiros, na Gafanha da Nazaré (Ílhavo), os industriais não escondem a preocupação com o futuro e temem que «se venda água em vez de peixe». João Vieira, administrador da Pascoal, e António Ribau, da empresa de pescas Ribau, falam das suas preocupações em relação aos aditivos no processo de salga de bacalhau de cura tradicional portuguesa. 

 João Vieira é administrador da Pascoal, empresa que conta com uma frota de dois navios que pescam parte do bacalhau (na Islândia, Gronelândia e Noruega) antes de ser transformado na fábrica da empresa, no Cais dos Bacalhoeiros, na Gafanha da Nazaré.
Questionado sobre a introdução de aditivos no bacalhau de cura tradicional portuguesa a partir de Janeiro de 2014, o responsável começa por dizer que «o bacalhau é um produto natural» sendo que «não faz sentido colocar químicos num produto que não necessita disso».

Por isso considera que a única «vantagem real» da utilização dos polifosfatos «é a retenção de água. Quando salgamos o bacalhau, e lhe retiramos a água, o curamos e secamos, se há um produto químico lá dentro que impede que se retire a água, estamos a vender água em vez de bacalhau», alerta o empresário.

E recorda: «eu não quero comer, como existe no mercado espanhol, bacalhau ao seu ponto de sal, que mais não é que bacalhau fresco, com injecção de água salgada a 1%, mas sabe a pescada, porque não é curado».

João Vieira acrescenta que durante a demolha «os polifosfatos não saem, como muitos dizem. Isso explica, por exemplo, que quando é cozido, as pessoas se queixam de uma acidez na garganta. Isso são químicos», garante.

João Vieira, que é também consultor da Associação dos Industriais Portugueses (AIB) - entidade que se tem oposto, desde o início deste processo, à introdução de aditivos no bacalhau -, recorda que há dez anos que a Pascoal «fez um acordo com a Universidade de Aveiro, para tentar detectar a utilização camuflada de polifosfatos no bacalhau».

Desse trabalho, informa, «saiu um documento científico que explica como e porquê é muito difícil detectar os aditivos no bacalhau, contrariamente ao que diz a Noruega», país mentor da proposta aprovada na Comissão Europeia (CE), e que entra em vigor em Portugal a 1 de Janeiro de 2014.

Rotulagem

A questão da rotulagem «também é muito importante», relembra João Vieira. «Vamos ter uma situação em que é difícil para os industriais portugueses ou para os distribuidores detectar os aditivos, já a lista de ingredientes será enorme. E como vamos mesmo saber se os aditivos que aparecem nas análises são adicionados ou não?», questiona o responsável da Pascoal.

«Vamos ter um problema. Nós, industriais, não compramos bacalhau com polifosfatos porque depois não conseguimos secá-lo», afiança, lembrando que «se não conseguirmos secar o bacalhau, as 25 mil toneladas de bacalhau seco que chegam da Noruega actualmente passam para 40 mil e a indústria fecha. É esta a nossa grande preocupação».

No Cais dos Bacalhoeiro da Gafanha da Nazaré, o Café Portugal esteve também à conversa com António Ribau, que dirige uma empresa que abriu portas em 1964, e que, apesar de hoje já ter a transformação mecânica, mantém ainda a seca artesanal, «sempre que possível».

Sobre os aditivos, «opõe-se totalmente» contra a medida, já que, tal como João Vieira, considera que isso serve «apenas para acrescentar água ao peixe». «Isso vai levar a que o tempo da seca aumente e que os consumidores paguem mais “gato por lebre”».

Apesar disso, não teme que o consumo diminua. «O consumo aumentou no ano passado e este ano a tendência é a mesma. Estamos a falar, no mínimo, de 65 mil toneladas de produto acabado, dividindo isso em termos per capita (para dez milhões de habitantes) dá cinco ou seis quilos por cada pessoa. É o peixe mais consumido à mesa dos portugueses. E, acredito, continuará a sê-lo», vinca António Ribau.

O diploma que introduz aditivos no bacalhau entrará em vigor a 1 de Janeiro de 2014, tendo sido aprovado pela CE, em Julho de 2013.

A proposta, desencadeada pela Noruega e Dinamarca em conjunto com uma associação de armadores da Noruega na Primavera de 2011, foi alvo de sucessivos avanços e recuos em Bruxelas, também devido à pressão dos eurodeputados portugueses, da AIB e do Governo português.

Entretanto, recentemente, em declarações ao Café Portugal, a AIB assegurou que as autoridades portuguesas têm garantido, junto da Associação, que nada falhará na fiscalização e controlo a partir de Janeiro do próximo ano.

Fonte: Café Portugal 

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