A introdução de polifosfatos no
bacalhau entra em vigor a 1 de Janeiro de 2014. No Cais dos Bacalhoeiros, na
Gafanha da Nazaré (Ílhavo), os industriais não escondem a preocupação com o
futuro e temem que «se venda água em vez de peixe». João Vieira, administrador
da Pascoal, e António Ribau, da empresa de pescas Ribau, falam das suas
preocupações em relação aos aditivos no processo de salga de bacalhau de cura
tradicional portuguesa.
João Vieira é administrador da
Pascoal, empresa que conta com uma frota de dois navios que pescam parte do
bacalhau (na Islândia, Gronelândia e Noruega) antes de ser transformado na
fábrica da empresa, no Cais dos Bacalhoeiros, na Gafanha da Nazaré.
Questionado sobre a introdução de
aditivos no bacalhau de cura tradicional portuguesa a partir de Janeiro de
2014, o responsável começa por dizer que «o bacalhau é um produto natural»
sendo que «não faz sentido colocar químicos num produto que não necessita
disso».
Por isso considera que a única
«vantagem real» da utilização dos polifosfatos «é a retenção de água. Quando
salgamos o bacalhau, e lhe retiramos a água, o curamos e secamos, se há um
produto químico lá dentro que impede que se retire a água, estamos a vender
água em vez de bacalhau», alerta o empresário.
E recorda: «eu não quero comer, como
existe no mercado espanhol, bacalhau ao seu ponto de sal, que mais não é que
bacalhau fresco, com injecção de água salgada a 1%, mas sabe a pescada, porque
não é curado».
João Vieira acrescenta que durante a
demolha «os polifosfatos não saem, como muitos dizem. Isso explica, por
exemplo, que quando é cozido, as pessoas se queixam de uma acidez na garganta.
Isso são químicos», garante.
João Vieira, que é também consultor
da Associação dos Industriais Portugueses (AIB) - entidade que se tem oposto,
desde o início deste processo, à introdução de aditivos no bacalhau -, recorda
que há dez anos que a Pascoal «fez um acordo com a Universidade de Aveiro, para
tentar detectar a utilização camuflada de polifosfatos no bacalhau».
Desse trabalho, informa, «saiu um
documento científico que explica como e porquê é muito difícil detectar os
aditivos no bacalhau, contrariamente ao que diz a Noruega», país mentor da
proposta aprovada na Comissão Europeia (CE), e que entra em vigor em Portugal a
1 de Janeiro de 2014.
Rotulagem
A questão da rotulagem «também é
muito importante», relembra João Vieira. «Vamos ter uma situação em que é
difícil para os industriais portugueses ou para os distribuidores detectar os
aditivos, já a lista de ingredientes será enorme. E como vamos mesmo saber se
os aditivos que aparecem nas análises são adicionados ou não?», questiona o
responsável da Pascoal.
«Vamos ter um problema. Nós,
industriais, não compramos bacalhau com polifosfatos porque depois não
conseguimos secá-lo», afiança, lembrando que «se não conseguirmos secar o
bacalhau, as 25 mil toneladas de bacalhau seco que chegam da Noruega
actualmente passam para 40 mil e a indústria fecha. É esta a nossa grande
preocupação».
No Cais dos Bacalhoeiro da Gafanha
da Nazaré, o Café Portugal esteve também à conversa com António Ribau, que
dirige uma empresa que abriu portas em 1964, e que, apesar de hoje já ter a
transformação mecânica, mantém ainda a seca artesanal, «sempre que possível».
Sobre os aditivos, «opõe-se
totalmente» contra a medida, já que, tal como João Vieira, considera que isso
serve «apenas para acrescentar água ao peixe». «Isso vai levar a que o tempo da
seca aumente e que os consumidores paguem mais “gato por lebre”».
Apesar disso, não teme que o consumo
diminua. «O consumo aumentou no ano passado e este ano a tendência é a mesma.
Estamos a falar, no mínimo, de 65 mil toneladas de produto acabado, dividindo
isso em termos per capita (para dez milhões de habitantes) dá cinco ou
seis quilos por cada pessoa. É o peixe mais consumido à mesa dos portugueses.
E, acredito, continuará a sê-lo», vinca António Ribau.
O diploma que introduz aditivos no
bacalhau entrará em vigor a 1 de Janeiro de 2014, tendo sido aprovado pela CE,
em Julho de 2013.
A proposta, desencadeada pela
Noruega e Dinamarca em conjunto com uma associação de armadores da Noruega na
Primavera de 2011, foi alvo de sucessivos avanços e recuos em Bruxelas,
também devido à pressão dos eurodeputados portugueses, da AIB e do Governo
português.
Entretanto, recentemente, em
declarações ao Café Portugal, a AIB assegurou que as autoridades portuguesas
têm garantido, junto da Associação, que nada falhará na fiscalização e controlo
a partir de Janeiro do próximo ano.
Fonte: Café Portugal
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