quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Gafanha da Nazaré - Santo André, o navio-museu que evoca memórias da pesca de bacalhau

Antigo arrastão bacalhoeiro que integrou a frota portuguesa de bacalhau nas águas do Atlântico Norte, o Navio-Museu Santo André foi recuperado e tornou-se um espaço de visita. Construída em 1948, na Holanda, a embarcação fez a sua primeira viagem um ano depois. Visitámos este antigo «arrastão», ancorado rente ao Jardim Oudinot. Um encontro com as memórias dos que viveram a bordo.


À medida que nos aproximamos deste antigo navio de pesca de bacalhau, ancorado rente ao Jardim Oudinot, em Gafanha da Nazaré, facilmente percebemos quão dura foi a actividade a bordo durante o meio século em que laborou.
O Santo André é um arrastão salgador e congelador imponente; mais de 70 metros de comprimento. Um grosso casco, pintado a azul profundo. Uma pujança necessária para as duras águas da Terra Nova, Mar do Norte, Gronelândia, Islândia, Noruega, Ilhas Faroé (território dinamarquês), entre outras regiões onde o navio operou.

Uma embarcação que é também um espaço de evocação. Um painel inscreve os nomes de todos os que habitaram este espaço sobrevivendo a condições extremas. Memórias também transcritas sob a forma de relatos dos pescadores. Narrativas plenas de aventuras, dores, mágoas, perdas e muitos pormenores técnicos sobre a «Faina Maior».

«Aqui repousa, no fundo, a identidade desta gente», sublinha Hugo Pequeno, técnico do Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), que nos acompanha nesta visita
 
Um périplo que começa no convés, onde se impõe aos nossos olhos o guincho, sistema outrora operado pelo guincheiro, com potência para suportar o aparelho de pesca e o peixe capturado.

Capturas que podiam ascender, com condições propícias, a várias toneladas de peixe por dia. Dai se compreenda a existência a bordo de uma pequena fábrica (o designado Parque de Pesca) de transformação do pescado. Uma unidade com capacidade para processar 12 toneladas de bacalhau diariamente.

«Aqui fazia-se a preparação do peixe para conservação, através da salga ou da congelação», explica Hugo Pequeno,

O nosso «guia» encaminha-nos para o porão de salga e dos congelados. Era aqui que o bacalhau era salgado individualmente e empilhado. A salga era feita por um grupo de salgadores, coordenados pelo mestre de salga.

Durante a campanha, «o peixe preenchia os espaços laterais e centrais até o último bacalhau tapar a boca da escotilha do porão», com capacidade para «armazenar mil toneladas de peixe, 80% da capacidade total do navio», como nos explica o técnico do MMI.

Hugo convida-nos a percorrer alguns dos espaços mais intimistas do navio. Visitamos a cozinha onde, outrora, o cozinheiro e dois ajudantes cumpriam a rotina de confeccionar as refeições da tripulação.

Seguimos para a câmara dos oficiais, área restrita, com a sua copa, a sala de jantar, os camarotes do capitão, do piloto e enfermeiro, bem como uma casa de banho. Somos convidados a entrar nos restantes camarotes, os que serviam a tripulação.

Construído em 1948 na Holanda, o Santo André fez a sua primeira viagem em 1949 nos mares da Terra Nova. O seu primeiro Capitão foi o ilhavense José Pereira Bela, como nos indica uma inscrição navio.

A última viagem do Santo André decorreu em 1997, rumo à Noruega. O comando esteve entregue a Manuel Silva Santos. Na década de 80 do século XX, «as restrições à pesca em águas exteriores» acabou por «apanhar o Santo André» na «onda dos abates», enquadra Hugo Pequeno.

«O navio foi desmantelado em Agosto de 1997. O seu destino era o abate». Foi neste momento que a autarquia de Ílhavo, com a ajuda do armador do navio à época, António do Lago Cerqueira, decidiram unir esforços e transformar o velho Santo André em Navio-Museu.

Com a ajuda também da Associação dos Amigos do Museu, o navio seguiu para transformação e recuperação entre 2000 e 2001. Abriu portas a 23 de Agosto de 2001, no Cais Bacalhoeiro, na Gafanha da Nazaré, Em 2007, a embarcação foi transferida para o Jardim Oudinot.

Segundo dados disponibilizados pelo MMI, visitaram o Santo André, em média, por ano, 24 mil pessoas. Os dados respeitam ao período entre 2002 e 2013.
  
 

 


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