Quando o trabalho numa serração de madeiras em Esporões, concelho de
Braga, deixou de ser suficiente, Albina Couto decidiu "fintar" a crise
investindo num negócio particular - e muito doce. A bracarense de 53
anos criou a empresa Pudim Real, que confeciona de forma totalmente
artesanal uma das maiores iguarias locais, o pudim Abade de Priscos, do
qual até já se fala no Brasil.
O lançamento de um negócio próprio esteve sempre entre os objetivos de
Albina, casada, mãe de dois filhos e natural da aldeia de Priscos, de
onde este pudim é também originário. Porém, o financiamento assumia-se
como um obstáculo, adiando a realização daquilo que, em entrevista ao
Boas Notícias, a nova empresária descreve como um "sonho".
"Tenho vindo a pensar nisso de há vários para cá. Contudo, a criação de
uma empresa implica custos. Só agora, com o apoio da Comissão para a
Cidadania e Igualdade de Género, é que é possível concretizar este sonho
e dar um cunho profissional ao trabalho que tenho vindo a fazer",
congratula-se Albina.
A bracarense foi uma das 12 mulheres selecionadas para beneficiar do Projeto Valor Acrescentado, promovido pelo Centro Social e Paroquial de Esporões para incentivar o empreendedorismo feminino com um prémio de apoio ao arranque no valor de 5030,64€ e a integração das empresas numa rede interempresas.
A bracarense foi uma das 12 mulheres selecionadas para beneficiar do Projeto Valor Acrescentado, promovido pelo Centro Social e Paroquial de Esporões para incentivar o empreendedorismo feminino com um prémio de apoio ao arranque no valor de 5030,64€ e a integração das empresas numa rede interempresas.
Albina concorreu a este programa financiado pelo QREN, pelo POPH/CIG,
pelo Estado Português e pelo Fundo Social Europeu (FSE), no âmbito do
qual recebeu também formação envolvendo as competências essenciais de
gestão empresarial, e, graças a este apoio, o negócio arrancou há cerca
de dois meses.
"Sempre achei que se deve ter uma segunda atividade, porque a situação
financeira do país não está fácil e, por conseguinte, temos de 'fintar' a
crise, apostando no empreendedorismo. No fundo, tentei rentabilizar os
meus dotes culinários", justifica a fundadora da Pudim Real, que
aprendeu os segredos da receita do Pudim Abade de Priscos com o Padre
Artur Lopes dos Santos, pároco de Priscos durante 64 anos.
Receita tem sido aperfeiçoada ao longo de 20 anos
Receita tem sido aperfeiçoada ao longo de 20 anos
"Sempre me interessei por culinária e a minha família sempre gostou do
Pudim Abade de Priscos. Como o Senhor Padre era amigo da família,
facultou-me a receita original do pudim e eu fui praticando ao longo dos
anos", explica a empresária.
Embora só recentemente tenha começado a transformar em lucro efetivo a
paixão pela doçaria, Albina tem vindo a aperfeiçoar a receita deste
pudim há duas décadas, o que explica o sucesso que tem granjeado junto
dos clientes. "[O segredo] é a experiência. Já o faço há mais de 20
anos", confidencia, garantindo que o que o torna especial é "o aspeto, o
sabor e principalmente a textura".
Com efeito, e apesar de o negócio ter ainda um curto tempo de vida, a
resposta tem sido muito positiva. "Na época natalícia tive muitas
encomendas, fiz mais de 70 pudins", partilha Albina, que recebe cerca de
três dezenas de pedidos para a confeção do pudim por mês. "Há sempre
encomendas, sendo que nas épocas festivas estas aumentam
exponencialmente", acrescenta.
De acordo com a empresária, mesmo com a crise, as "perspetivas" para o
futuro são "boas". "Já sou conhecida em restaurantes de referência e por
particulares. Tenho clientes que vêm de todas as zonas do país à
procura desta afamada iguaria. Quando faço um cliente nunca o perco... e
por alguma razão será", diz, orgulhosa, ao Boas Notícias.
A qualidade do pudim tem sido, inclusive, reconhecida em várias
ocasiões: Albina já marcou presença em diversos programas de televisão,
foi entrevistada por várias rádios e jornais e por uma revista
brasileira de gastronomia e conta já com vários prémios no seu palmarés.
O mais especial, porém, foi mesmo o primeiro. "Foi muito importante porque eu não tinha noção de que o pudim fosse assim tão bom. No fundo, tratou-se do primeiro reconhecimento público do meu trabalho", recorda.
O mais especial, porém, foi mesmo o primeiro. "Foi muito importante porque eu não tinha noção de que o pudim fosse assim tão bom. No fundo, tratou-se do primeiro reconhecimento público do meu trabalho", recorda.
Por enquanto, Albina é a única trabalhadora da empresa, mas espera
poder ampliar o número de funcionários. "Com o crescimento da empresa,
espero que seja possível", admite, considerando também a possibilidade
de vir a exportar o seu Pudim Abade de Priscos para destinos
além-fronteiras, o que, graças aos emigrantes portugueses, já acontece
em certa medida.
"Tenho um manancial de clientes que são emigrantes em países como o
Brasil, Alemanha, Suíça e França e que me incentivam a exportar o pudim.
A entrada efetiva no estrangeiro seria um grande passo", conclui.
Fonte: Boas Noticias
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