segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Banana da Madeira desfaz-se em sumo para ganhar notoriedade e crescer


Nas últimas décadas, a construção na ilha roubou os melhores terrenos aos bananais e a produção caiu a pique. Transformada em sumo pela Compal, a banana da Madeira ganha visibilidade

Vasco Lourenço guia-nos pelo seu bananal em Madalena do Mar, ilha da Madeira, e vai-nos mostrando os cachos que estão prontos para colher, os que ainda vão ter de esperar, e os que têm umas bananas pequenas e verdes que ainda nem parecem bananas. O clima debaixo das grandes folhas verdes é húmido e quando andamos pisamos os restos das bananeiras já mortas, depois de terem dado o seu cacho.

O homem que nos guia é um dos 2800 produtores de banana da Madeira, grande parte deles com parcelas muito pequenas de terreno. Em conjunto, atingem uma produção anual de 16 mil toneladas do fruto, e um volume de negócios de 12 milhões de euros por ano. Vasco Lourenço está a fazer de guia a um grupo de jornalistas porque a banana da Madeira acaba de ganhar uma nova visibilidade: é a fruta escolhida pela Compal para o novo sumo que a empresa acaba de lançar.

O Compal Clássico Banana da Madeira vem assim juntar-se a outros "clássicos" que a marca lançou para assinalar o seu 60.º aniversário, como o Ameixa Rainha-Cláudia ou o Laranja do Algarve. E, claro, ao mais clássico (e mais antigo) de todos, o de Pêra-Rocha.

Para a Madeira, e sobretudo para a GESBA - Empresa de Gestão da Banana, esta é sobretudo uma oportunidade para reforçar a identidade da banana da ilha, que é, na sua esmagadora maioria (85%), exportada para o continente. E "muito pontualmente" para o mercado espanhol, diz Jorge Dias, gerente da GESBA. "A exportação para fora de Portugal é totalmente marginal."

Criada em 2008, a GESBA pretende sobretudo "consolidar o sector", e não tanto aumentar a produção. Segundo Jorge Dias, há ainda margem de manobra para se conseguir um aumento de produção, mas, sublinha, a banana da Madeira - que no consumo nacional de banana representa actualmente cerca de 10% do total - "será sempre uma banana de nicho".
"O nosso mercado natural é o de Portugal continental, e a nossa estratégia é consolidar esse mercado", afirma o responsável. A diferença de preço entre as bananas da Madeira e as importadas não representa um problema, diz. "Quando o consumidor olha para a banana da Madeira, vê-a como sendo diferente das outras. Ela ocupa um lugar natural no mercado." Por isso, a prioridade é reforçar a marca Banana da Madeira, que "já existe informalmente há muito tempo mas só foi registada há quatro ou cinco anos", e "continuar a apostar nas características que a diferenciam", nomeadamente, o sabor "doce e intenso".
 
Banana em sumo?

É aí que entra a Compal. A empresa de bebidas contactou a GESBA em 2011 para lhe propor lançar um sumo de banana. Inicialmente, a reacção dos próprios produtores foi a mesma que a da maioria do público que ouve falar da ideia pela primeira vez: sumo de banana? Não será demasiado espesso? Mas o departamento de investigação e desenvolvimento da Compal trabalhou a polpa da banana até conseguir uma bebida que, embora mantenha o sabor da banana, tem a consistência de um sumo. E está a lançá-la com uma enorme campanha de publicidade, que passa por muitos contactos em pontos de venda para dar a provar o novo produto.

O objectivo de venda, segundo João Nuno Pinto, da Compal, é atingir os "dois milhões de actos de consumo", ou seja, o equivalente a dois milhões de unidades em garrafa. Para fornecer a polpa de banana necessária não será preciso, para já, aumentar a produção, garantem ambos os lados. A grande aposta é o mercado do continente, mas a Compal admite exportar também o sumo de banana, tal como já exporta outros. "São muito consumidos por portugueses de segunda ou terceira geração em países da Europa", explica João Pinto.

Quem atravessa a Madeira vê bananeiras (a variedade aqui é a Musa acuminata cavendish) por todo o lado. Introduzidas na ilha no século XVI (existe uma referência escrita às bananeiras da Madeira que data de 1552), julga-se que terão vindo das Canárias ou de Cabo Verde, e tornaram-se parte integrante da paisagem. Mas já o foram muito mais.

Quem o lembrou, durante a apresentação do novo sumo, foi o secretário regional do Ambiente e Recursos Naturais, Manuel Rodrigues Correia. "Os melhores terrenos são disputados pela banana e pela construção civil", disse. E reconheceu até a sua quota-parte de responsabilidade quando estava no pelouro da Habitação. "Fui um dos maiores responsáveis pelo declínio da área agrícola na Madeira. Mas não tínhamos outra alternativa", disse, explicando que na época a habitação social era a prioridade. "Agora estamos noutra fase: consolidada a área de construção, podemos proteger os bananais", que ocupam actualmente 14% da área agrícola da ilha.

E o que é que isto significa para os bananicultores? "Quem tem um hectare de bananeiras numa área de boa produção sempre vai podendo mandar os filhos para a escola, mas sem luxos", resume Vasco Lourenço. Mas o trabalho é muito - cita depois aquela que é a sua máxima: "Bananas são como bebés, precisam de muitos cuidados."
 
Queda na produção

Continua a abrir caminho pelo seu bananal e a mostrar como cada planta (as bananeiras não são árvores, têm um falso tronco constituído por um conjunto de bainhas de folhas, em espiral) está numa fase diferente e precisa de cuidados diferentes. Estamos no pico da produção: embora haja banana todo o ano, metade da produção acontece entre os meses de Julho e Outubro.

"Esta pariu há uns dias", diz Vasco Lourenço, recorrendo à expressão utilizada quando o cacho sai de dentro da bananeira. E se há cachos que podem atingir os 60 quilos, o peso médio anda pelos 35. E, é preciso não esquecer, cada bananeira dá apenas um cacho, e deixa no chão uma "canhota", ou "filha", da qual crescerá a bananeira seguinte.

O maior inimigo das bananeiras é o vento, que pode destruir toda uma produção. É importante também saber que as bananeiras "não gostam do frio" e por isso só se dão bem em terrenos até aos 200 metros de altitude (organizados em socalcos para melhor aproveitamento), mas, por outro lado, "gostam muito de água", cujo consumo por atingir os 23 litros por dia e por bananeira.
 
Se actualmente os bananicultores da Madeira conseguem 16 mil toneladas, no final dos anos 1990 a situação era bastante diferente: a produção atingia as 28 mil toneladas e a banana da Madeira representava 20% do consumo nacional. Apesar disso é ainda hoje uma das culturas mais importantes na economia familiar da ilha.



Fonte: Público

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