quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Empresa Portuguesa Nutri Ventures convidada por Michelle Obama para lutar pela alimentação saudável das crianças

A Nutri Ventures foi a única empresa não americana convidada por Michelle Obama para lutar pela alimentação saudável das crianças. É portuguesa, embora o nome não o indique. Empenhada em combater a obesidade infantil, Michelle Obama reuniu-se na semana passada com especialistas em marketing alimentar para crianças, sob o lema Let’s Move, a causa por que luta desde que Barack Obama foi eleito Presidente dos EUA.
Entre as cerca de 20 empresas presentes, estava a portuguesa Nutri Ventures, que criou em 2010 uma série de animação infantil que promove hábitos alimentares saudáveis e já chega a 23 países.

Os fundadores do projecto, o gestor Rui Miranda e o engenheiro aeroespacial Rodrigo Carvalho, já tinham estado na Casa Branca com a equipa de trabalho de Michelle Obama, mas não com a própria anfitriã. “Tem uma maneira simpática de estar, muito próxima e descontraída, mas também muito profissional”, descreve Rui Miranda em conversa telefónica a partir de Nova Iorque. E prossegue: “É muito elegante e muito alta. Eu tenho dois metros e mesmo assim ela parece-me muito grande.”

Também o discurso lhe agradou: “Com clareza, define o problema, reconhece que temos feito progressos e depois diz: ‘Mas isto não chega.’ E explica porquê.” Em resumo: “É uma mulher muito inspiradora. Cria um sentimento de desafio, mas ao mesmo tempo de reconhecimento. Fez-nos sentir que quem estava na reunião eram as pessoas certas para a sua causa e disse-nos que contava connosco para resolver o assunto.” Ou seja, inspira e responsabiliza.

Presentes na reunião (The White House Convening on Food Market to Children) estiveram marcas “globais” e que abarcam o retalho, os media e o entretenimento, como a Disney, a Kelloggs, a Mars ou a Walmart, a Burger King e a Coca-Cola, entre outras.

Michelle disse: “Vocês são as marcas e os profissionais que melhor trabalham as áreas de entretenimento e marketing, e nós precisamos que nos tragam iniciativas que atraiam mais as crianças para a alimentação saudável.”

Rui Miranda satisfaz-se com esta “atitude concertada [nos EUA] entre os vários sectores e a parte institucional para encontrar soluções que permitam promover a alimentação saudável das crianças”. Prefere esta forma de agir a uma outra que considera mais comum noutros países, “a de continuar a denegrir o que está mal, sem haver mobilização conjunta para resolver os problemas”.

Arriscar tudo pelo sonho americano

A Nutri Ventures está a querer “estabelecer a marca” nos Estados Unidos e os resultados dos últimos três meses estão a dar um bom impulso para desenvolver o negócio. “Na área digital, atingimos mais de um milhão de utilizadores únicos no nosso canal de YouTube. E na plataforma americana YouView contabilizámos três milhões de views dos nossos primeiros três episódios.”

Esta vontade de consolidar o negócio nos EUA fez com que Rui Miranda e a família (mulher e quatro filhos) optassem por viver em Nova Iorque nos próximos tempos. “Não dá para arriscar só um bocadinho, tem de se arriscar tudo. Os EUA valem 35 a 40% do mercado a nível mundial de entretenimento. E não é só por ser apetecível, é ele que dita as tendências dos outros mercados. Nos próximos dois anos, ficarei por aqui. É o prazo para estabelecermos a marca.”

Um dos contributos da Nutri Ventures para a equipa do Let’s Move foi o de esta “passar a definir os standard media para a indústria alimentar americana”. Rui Miranda explica com um exemplo Disney: “Conseguir impedir, por exemplo, que personagens como o rato Mickey ou o Shrek apareçam associados a alimentos não saudáveis.” Segundo Rui Miranda, os EUA não tinham esta prática de validação de produtos que podem ser licenciados.

“No caso da Nutri Ventures, oferecemos os nossos conteúdos para a parte educacional do sistema público poder utilizar, além da parte de comunicação e divulgação, mas exigimos do nosso parceiro que esteja ciente do perfil de com quem pode validar os produtos alimentares em parcerias comerciais. Para garantir que somos uma marca que promove uma alimentação saudável, temos de ter alguém que faça a parte científica e institucional. E que a valide. Nos EUA, essa validação dos produtos que podem ser licenciados pela Nutri Ventures vai ser feita pela equipa de Michelle Obama, no âmbito do programa Let’s Move.”

Em Portugal, a Nutri Ventures atingiu os 120 mil utilizadores registados no site (crescimento de 50% desde Maio, quando tinha falado com o Life&Style); em Espanha, o share do Canal Disney, onde passa a série, aumentou 8%. E no Brasil, no SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), a audiência cresceu 25%.

“Queremos semear outros mercados.O nosso objectivo é tornar a Nutri Ventures uma marca global ”, diz Rui Miranda, mas assegura que não se estão a distrair do essencial, que são as narrativas e os episódios que vão conquistando as crianças de várias geografias.

“Já temos mais mil minutos de animação produzidos e já escrevemos até ao episódio 75, o que é bastante. E ainda nem sequer entraram em produção. Queremos continuar a desenvolver a parte criativa, com mais personagens e mais histórias à volta das personagens.” E conclui: “Estamos muito felizes.”

A “amiga” portuguesa de Michelle Obama

Cláudia Rodrigues, diretora de marketing e vendas para Portugal e Espanha da Nutri Ventures, explica ao Briefing como é que a empresa portuguesa chegou à Casa Branca.

Briefing: Como é que surgiu o convite para estarem no encontro com Michelle Obama?

Cláudia Rodrigues:
Em 2012, a Nutri Ventures esteve presente numa conferência com Michelle Obama e, desde essa altura, que mantém um contacto regular com a sua equipa de trabalho. No entanto, foi com alguma surpresa que, há cerca de um mês, recebemos o convite da Casa Branca e de Michelle Obama para estarmos presentes nesta primeira reunião de trabalho sobre marketing alimentar para as crianças. A equipa do Let's Move - programa criado por Michelle Obama - confiou e pediu às entidades presentes que trabalhassem em conjunto para combater a obesidade infantil.

B: O que esteve na origem da criação da empresa?

CR:
A Nutri Ventures começou a ser pensada no Verão de 2009, altura em que os fundadores Rodrigo Carvalho e Rui Lima Miranda decidiram apostar no desenvolvimento de conteúdos para crianças, com um projeto de ambição mundial que assentasse numa série de animação infantil. Para competir diretamente com todas as outras séries de animação não bastava a série ter qualidade, tinha de apostar na diferenciação. Mas quisemos ir ainda mais longe. Os personagens de uma história infantil tem um poder de atração muito forte junto das crianças e sabíamos que, se criássemos uma história 3 i's (interessante, interativa e instantânea) cheia de ação, aventura, comédia e muita música, podíamos despertar os mais pequenos para qualquer temática. A Nutri Ventures soube tirar partido disso e construiu um negócio com causa. Na altura não havia nenhum projeto no mundo que abordasse a temática da alimentação saudável de uma maneira divertida e eficaz, com uma linguagem que despertasse o interesse dos mais pequenos para o tema. Já existiam alguns conteúdos, mas sempre com uma abordagem de cariz pedagógico. A alimentação saudável tem uma importância fundamental na vida das crianças. A obesidade infantil afeta 1 em cada 3 crianças no mundo, acarreta graves repercussões para a sua saúde e bem-estar e pela primeira vez na história da humanidade, esta geração de crianças pode vir a ter uma esperança média de vida menor do que a dos seus pais. A Nutri Ventures começou a construir a marca que hoje é quando descobriu esta temática.

B: Como é que a Nutri Ventures tem promovido os seus conteúdos?

CR:
Os nossos conteúdos transmedia são promovidos em diferentes canais. Temos uma forte presença em televisão e no mundo digital - os próprios conteúdos acabam por se promover a si próprios, e entre si, porque se complementam. No estrangeiro, nos 23 países onde estamos presentes, a Nutri Ventures promove os seus conteúdos através das distribuidoras que contrata. Também divulgamos os nossos produtos e conteúdos no facebook e através dos media - por exemplo, no caso dos DVD’s fazemos a promoção e divulgação com o nosso parceiro Canal Panda, onde são exibidos os videoclips que integram o DVD. Para os conteúdos desenvolvemos campanhas de marketing digital, no caso dos produtos, e como os mesmos são comercializados por licenciados, parte da comunicação é também realizada por eles. Por outro lado, contamos com os nossos parceiros comerciais e institucionais - como o Ministério da Educação, o Ministério da Saúde e a Associação Portuguesa de Nutricionistas - para garantirmos que o projeto chega a um número mais alargado de crianças, pais, avós, profissionais de saúde e educação, sendo também estas as entidades responsáveis pela validação de todas as mensagens nutricionais presentes na nossa série e conteúdos. Além destas componentes, promovemos ativamente os nossos conteúdos junto dos media. Neste campo, toda a nossa comunicação é feita pela Adagietto.  

B: Por onde é que começou a internacionalização e quais os projetos nesta área?

CR:
A Nutri Ventures é um projeto pensado, desde a sua génese, para o mundo. Apesar de ser 100% português, a estreia da série infantil não foi em Portugal, foi na Ucrânia, em 2012. A Nutri Ventures é orgulhosamente 100% portuguesa, mas podia ser norte-americana. Criou um conceito de entretenimento único no mundo assente num tema que interessa a todas as crianças, pais e educadores. É engraçado constatar a surpresa na cara das pessoas quando se apercebem que o projeto é português. Neste momento, a série de animação infantil já foi vendida para 23 países. Em termos de mercados já estamos em emissão no Brasil, Bulgária, Espanha, EUA, Hungria, Israel, Portugal, República Checa, Singapura, e Ucrânia e estamos em fase de dobragens e adaptações para Albânia, Bósnia e Herzegovina, Colômbia, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Malásia, Montenegro, Tailândia e Sérvia. Todos os conteúdos Nutri Ventures (série, plataforma digital, músicas, jogos, conteúdos pedagógicos, etc) são adaptados a cada mercado e, por isso, são disponibilizados ao público em momentos diferentes, assim como os frutos das parcerias institucionais e comerciais com as entidades locais.


Fonte: Público

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