terça-feira, 24 de setembro de 2013

Queijinhos frescos de encantar, ao pequeno-almoço, almoço e jantar

Na ponta da língua  

Por Miguel Esteves Cardoso


Regra geral, os produtores dos petiscos caseiros (sejam ovos, frutas ou queijos) já têm clientes que cheguem e querem tudo menos publicidade. Vejo-me assim obrigado a comer e a calar, o que vai contra todos os meus instintos de jornalista.

Esta semana consegui convencer um desses produtores a dar a cara e vou já dizer os nomes e o número de telefone antes que eles ou eu e a Maria João nos arrependamos.

São eles que fazem os maravilhosos queijinhos frescos que comemos todos os dias, ao pequeno-almoço e ao jantar. Há um outro produtor de excelentes queijinhos frescos na zona de Lisboa mas tem uma produção limitada que já não chega para as encomendas.

Os queijinhos frescos da Courela do Campo são excepcionais por serem muito bem feitos pelo mestre queijeiro Rui Romão de leite fresquíssimo da melhor qualidade. É tudo pasteurizadíssimo e limpíssimo mas o estilo é o de antigamente. São queijinhos cremosos e pesados que não sabem a água ou se desagregam, como todos os que para aí há que são feitos a partir de leite inferior ou mesmo leite em pó. No mundo dos queijinhos, impera o mesmo princípio teológico que se aplica aos seres humanos: pó foste, pó serás.

A qualidade e a frescura do leite não são tudo, porém. É preciso habilidade e bom gosto. Os queijinhos frescos precisam de pressa: têm de ser feitos depressa e vendidos depressa, enquanto se recomeça a fazer uma nova leva com o leite novo que entretanto chegou.

Bem transportados e bem preservados, os queijinhos frescos chegam a durar uma semana no frigorífico. Tem é de se escorrer o soro todos os dias e, se for caso disso, lavar os queijinhos em água fria.

O meu pai era maluco por queijinhos frescos e fazíamos dezenas de quilómetros para prová-los. Não havia cara mais decepcionada em Portugal do que a cara do meu pai se lhe dissessem que tinham acabado os queijinhos frescos. Quase chorando, insistia sempre em saber "porque é que me disse? Porque é que me disse?"

Desde a proibição (correcta) de fazer queijinhos frescos com leite cru, os produtores levaram 20 ou 30 anos para arranjar maneira de fazer queijinhos frescos igualmente saborosos com leite fresco pasteurizado.

Já provei todos os queijinhos frescos à venda na zona de Lisboa (mesmo os mais suspeitos) e posso afirmar que os melhores de todos, ao alcance do público, são os produzidos pela Courela do Campo em Torres Vedras. Fazem também um queijinho fresco de cabra que é notável por ter pouquíssimo sal.

O preço deles é cinco cêntimos mais caro do que os queijinhos frescos que se compram por aí mas a diferença de qualidade sabe mais a cinco euros do que cêntimos.

Os irmãos Romão, Rui e Jorge começaram a fazer queijinhos frescos em Reguengos de Monsaraz. O gosto e a vaidade alentejana são elementos importantíssimos. Hoje produzem os queijinhos em instalações maiores, em Torres Vedras. Tendo comido diariamente os queijinhos feitos em Reguengos, posso dizer que nunca encontrei diferença dos queijinhos feitos em Torres.

Têm os mesmos fornecedores de leite excelente (no sentido literal, de exceder todos os outros, excepto o leite Vigor) e, claro, são os mesmos irmãos Romão a tratar de tudo.
Para experimentar os queijinhos deles (têm outros queijos curados, simples mas impecáveis) terá de contactar um dos armazenistas. Não é a maneira mais fácil de comprar queijinhos mas pode comprar uma semana inteira de cada vez.

Os armazenistas abaixo indicados dir-lhe-ão quais as lojas que fornecem que estão mais perto de si. Nós, por exemplo, fazemos quarenta quilómetros todas as semanas para nos abastecermos. E juro que os irmãos Romão nunca me ofereceram (ou tentaram oferecer) um único queijinho. É gente séria e de boa fé, ao contrário dos queijinhos que são fofinhos, acetinados e francamente irresistíveis. Mau, que já estou a dar fome a mim próprio - e ainda há bocado comi dois deles.




Fonte: Life&StyleGastronomia - Público

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