Estima-se que as crianças e os jovens possam ver mais de 46.000
mensagens publicitárias por ano. Em Portugal, mais de 70% dos alunos
entre os 8 e os 11 anos dizem que a publicidade influencia a
alimentação.
As crianças mais novas até têm conhecimentos razoáveis sobre o que é
uma alimentação saudável. Mas, com o passar dos anos, “perdem-nos”. E,
com os conhecimentos, mudam os comportamentos, que, com a idade, se
tornam menos saudáveis, mostra uma investigação feita junto de cerca de
600 alunos entre os 8 e os 11 anos que frequentam escolas da Grande
Lisboa. O acumular de horas e horas de anúncios publicitários pode
ajudar a explicar essa deterioração de comportamentos?
Pode, sustenta Francisco
Costa Pereira, o coordenador da equipa da Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias que elaborou o estudo apresentado nesta
terça-feira, em Lisboa.
“O estudo não demonstra directamente uma
relação entre a obesidade e a publicidade”, explica, mas há dados que
dão que pensar, continua: quanto mais velhas são as crianças inquiridas,
mais horas de televisão vêem e mais navegam na Internet. Quanto mais
velhas, menor é o consumo de alimentos saudáveis naturais e maior o de
alimentos menos saudáveis, como snacks. Os resultados sugerem que “a publicidade pode desempenhar um papel nesta relação”, conclui o estudo A Influência da Publicidade nas Crianças.
É
certo que, entre os 8 e os 11 anos, as crianças também se tornam mais
cépticas em relação à publicidade. Mas esta é sempre uma relação
ambivalente: a afirmação “os anúncios mentem” tem quase tanto peso nas
respostas dos miúdos como a de que “os anúncios mostram-me coisas boas
para comprar”.
São, de resto, as próprias crianças – mais de sete
em cada dez das inquiridas – a dizerem que a publicidade pode
influenciar os hábitos alimentares das pessoas.
Os jovens,
nomeadamente as crianças, estão expostos diariamente a milhares de
mensagens publicitárias, lê-se no estudo. Estima-se que possam ver mais
de 46.000 por ano. O grupo de alunos que fez parte da amostra dos
investigadores portugueses revelou ter “uma vida bastante sedentária”,
com cerca de metade do seu tempo disponível passado a ver televisão e a
estar no computador. Estas crianças estão sujeitas a “uma exposição
muito elevada a mensagens publicitárias”.
Essa “elevada exposição”
ficou bem patente quando foram desafiadas a mencionar marcas: as
crianças foram capazes de referir 420 marcas diferentes – à cabeça, uma
marca conhecida de pronto-a-vestir, depois uma de papas e chocolates, e
ainda o nome de uma cadeia de hipermercados e depois uma marca de roupa e
assessórios desportivos.
Trata-se de um “repertório bastante
elevado”, sustentam os investigadores, com as marcas relacionadas com os
produtos alimentares a terem “um lugar destacado”.
Costa Pereira
lembra que muito do que as crianças mais novas sabem sobre alimentação
saudável aprendem na escola – nas aulas e através das dietas nas
cantinas. Mas que esses conhecimentos e comportamentos têm de ser
“consolidados” em casa, sob pena de não resistirem à passagem para o 2.º
ciclo e para a fase da pré-adolescência. Por fim, sustenta que uma
maior literacia da publicidade (capacidade de compreender os anúncios,
quem os faz e com que objectivos) pode ajudar as crianças a terem
conhecimentos e comportamentos alimentares saudáveis.
Fonte: Público
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