Empoleirada na Azurara, margem esquerda do rio Ave, de onde desfruta de uma bela vista de Vila do Conde, a Imperial (grupo Rar)
é mais do que uma fábrica de chocolates. É também um livro, um manual
que explica como um campeão nacional de um país que balança à beira da
falência consegue prosperar apesar de disputar um mercado estagnado com
as multinacionais do sector, com a gigante Nestlé à cabeça.
Nós não somos de comer chocolate. O consumo anual português per
capita estacionou em 1,5 kg há uma data de anos. É metade do consumo dos
espanhóis. E miserável quando comparado com os oito quilos dos belgas,
os dez dos ingleses e os 12 dos suíços.
Apesar disso, a Imperial
prepara-se para fechar o ano com um doce crescimento de dois dígitos no
volume de negócios, que ronda os 25 milhões de euros. Claro que o
aumento da exportação deu uma ajuda. Um quarto da faturação é feita fora
de portas, numa geografia variada que combina os mercados óbvios
(Espanha, França, Luxemburgo, Angola, Moçambique e África do Sul) com
outros que nem tanto, como a América Latina (Uruguai, Paraguai, Peru e
Colômbia) e a Suíça, onde bate o coração da indústria de chocolate e a
maior cadeia alimentar do país acaba de encomendar toda a linha Jubileu.
Mas
o aumento das vendas não se esgota na exportação. Num mercado interno
anémico e parado, a Imperial vai cometer a proeza de crescer 10%, o que
significa que está a roubar quota à concorrência estrangeira.
O
segredo da fábrica de chocolates Imperial consiste numa ágil combinação
entre diferentes ingredientes: inovação, flexibilidade, qualidade e o
hábil manejar do marketing na relação emocional forte que as suas marcas
têm com o consumidor.
O exemplo mais acabado da importância deste último ingrediente é o
tremendo sucesso que está a ser o relançamento da máquina de furos da
Regina, a mítica marca de chocolates que a Imperial adquiriu em dezembro
de 2000 e relançou na Páscoa de 2002, juntando-se no seu portfólio a
outras marcas valiosas como a Pintarolas, Allegro, Pantagruel e Jubileu.
Após 20 anos desaparecida de confeitarias e quiosques, a caixa de furos
da Regina reapareceu há cerca de um mês, estreando-se nas lojas da Vida
Portuguesa de Catarina Portas, como é conveniente a um produto vintage,
ressuscitado no âmbito de uma estratégia de retromarketing.
As
melhores expectativas da Imperial apontavam para que no primeiro ano se
fizessem três milhões de furos (a 80 cêntimos cada, dando sempre direito
a um chocolate diferente, de acordo com a cor da bola que sai) nas
cinco mil máquinas, equipadas com uma cartela recarregável, que planeava
distribuir pelo país. Ora sucede que já foram recebidos na Azurara mais
de 20 mil pedidos de caixas de furo da Regina, que já vai em 85 mil fãs
no Facebook.
“É um fenómeno. Não estávamos preparados para
tamanha procura”, diz Manuela Tavares de Sousa, a presidente executiva
da Imperial, onde trabalha há 24 anos, desde que acabou o curso de
Engenharia na Universidade do Porto.
Até nova ordem, a previsão de
furos para 2014 subiu para 11 milhões, pelo que não espanta que as
máquinas e os 170 empregados da fábrica de chocolates estejam a
trabalhar a todo o vapor, 24 horas por dia, em três turnos, sem ligar
aos fins de semana, até porque estamos num dos dois picos (o Natal) e a
um trimestre do outro (a Páscoa), que representam, em partes iguais, 70%
das vendas em Portugal.
As marcas ajudam. A Pantagruel, com 31%
de quota, é líder absoluta no mercado de chocolate de culinária. “Já
perdi a conta às pessoas que me contam que a mousse de chocolate não sai
boa se não for feita com Pantagruel”, conta Manuela. E que atire a
primeira pedra quem nunca comprou um tubo de Pintarolas ou não comeu um
guarda-chuva Regina.
As marcas ajudam, mas não chegam para
explicar o sucesso da Imperial. São apenas um dos ingredientes da
receita. Importante, mas não único. “Estamos sempre muito atentos às
tendências do mercado. Estudámo-las e respondemos. Temos de saber
interpretá-las e ser capazes de surpreender o consumidor”, resume a CEO
da Imperial, que só no último trimestre lançou no mercado 30 novos
produtos - o que ajuda a perceber porque é que a Cotec a distinguiu com o
Prémio Inovação 2012.
Uma das novas tendências é o aumento do
consumo do chocolate preto, sustentado na divulgação de estudos
científicos que confirmam ser rico em antioxidantes e por isso um
alimento saudável com lugar cativo numa dieta equilibrada. Interpretando
o gosto e procura crescente pelo chocolate preto, a Imperial aproveitou
a marca Jubileu para lançar uma tablete com 70% de cacau e surpreendeu o
consumidor com duas novas linhas, uma marcada pelo exotismo (morango,
lima e pimenta e pétalas de rosa) e outra pela sofisticação (85% cacau,
flor de sal, pepitas de cacau caramelizadas) - e apostou em embalagens
mais práticas e convenientes , em que as tabletes já vêm divididas em 18
doses e são fáceis de guardar e reutilizar.
“O consumo de um ou
dois quadrados de chocolate preto por dia até é recomendado em regimes
de emagrecimento”, conta Manuela, prova provada do que diz, já que é
magríssima (mas não excessivamente; como dizia Wallis Simpson, uma
mulher nunca é demasiado magra nem demasiado rica), apesar de, por dever
do ofício, comer cerca de 15 quilos de chocolate por ano - dez vezes
mais do que o consumo médio nacional.
Retrato
A fábrica de chocolates Imperial foi fundada em 1932, mas a sua origem é ainda anterior: remonta aos anos 20, quando um francês produziu chocolate num espaço anexo a uma farmácia de Vila do Conde, uma pequena fábrica chamada Meteor. A Imperial afirmou-se com marcas como a Jubileu, Fantasias de Natal, Pintarolas, Bombokas, Allegro e Pantagruel. Hoje detém também a Regina. As marcas estão em 40 países.
Fonte: Dinheiro Vivo
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