terça-feira, 3 de dezembro de 2013

“Selos de certificação em embalagens são fonte mais credível para consumidor”

“Há ainda um elevado nível de desconfiança quando uma empresa comunica os seus esforços de responsabilidade social através de publicidade”, revela em entrevista ao Hipersuper, Marcelle Peuckert, Directora de Desenvolvimento de Negócios do Forest Stewardship Council.
 
Hipersuper: Segundo o estudo que acabam de revelar, os consumidores valorizam um produto que se diferencie pelas suas práticas ambientalmente sustentáveis. De que forma esta valorização do consumidor traduz a compra efectiva de produtos “verdes”?

Marcelle Peuckert: O estudo global do FSC revela que os consumidores estão muito preocupados e sensibilizados para dois temas com importância crescente – poluição ambiental (84% dos consumidores) e alterações climáticas (82%). Os dados demonstram uma elevada preocupação e consciencialização. Globalmente, a maioria dos consumidores acredita que podem marcar a diferença através das suas compras e muitos revelam uma intenção de ter gastos mais ecológicos no próximo ano.

A grande maioria dos inquiridos (80%) pensa que o sector privado deveria envolver-se mais activamente na correcção de problemas ambientais e climáticos, assim como o Governo (42%).
O modelo tradicional em que o negócio existe apenas para gerar lucros mudou claramente. Agora, embora as empresas devam permanecer rentáveis, devem também desempenhar um papel activo – podendo ser uma força motriz – na resolução dos desafios sociais e ambientais mais urgentes do nosso mundo.

Os consumidores procuram relacionarem-se com uma marca, e, em essência, são menos propensos a trocar uma marca verde por outra que não seja verde, no entanto, ainda há um alto nível de desconfiança quando uma empresa comunica os seus esforços de responsabilidade social através de publicidade (apenas 20% de confiança).

Alternativamente, os selos de certificação ou as etiquetas em embalagens de produtos são a fonte mais credível de informação, com 50% dos entrevistados a afirmarem isso: que são a fonte em que mais confiam.

Credibilidade é fundamental para um negócio ou para uma marca e a afiliação com o FSC confere boa vontade às marcas participantes. A história do FSC aliada à confiança de uma marca ajuda os consumidores a identificarem compras responsáveis e ao conduzirem a sua intenção de compra os consumidores estão consequentemente a ajudar as florestas do mundo.

É ainda muito interessante registar que a credibilidade de um selo de certificação, juntamente com a confiança de um consumidor numa marca, tem maior influência do que a que qualquer grupo poderia exercer sozinho.

H:Que outras vantagens trazem as certificações ambientais às empresas?

MP: No estudo- com quase 5.000 titulares com certificação a responder – a procura de cliente / mercado, as vantagens competitivas, o aumento da consciência ambiental dos consumidores, valorização dos requisitos de responsabilidade social empresarial, juntamente com melhor acesso ao mercado são as principais razões para a certificação.
 
93% dos inquiridos consideram que o maior impacto da certificação FSC está associado à transparência da identificação de produtos provenientes de florestas bem geridas, que fornecem soluções de gestão de risco e, mais importante, que estão incorporados numa estratégica de CSR. Estratégias tangíveis e indicadoras de responsabilidade social estão cada vez mais a ser exigidas às empresas.
 
Além disso, 89% considera que a certificação ajuda a manter a biodiversidade em florestas geridas. O FSC aborda vários aspectos da gestão florestal responsável, incluindo as funções ecológicas, plantações, restauro, habitats classificados, direitos dos povos indígenas e boas práticas na produção de madeira.
 
A gestão sustentável dos espaços florestais é um dos meios mais eficazes para reduzir as alterações climáticas. As árvores absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera à medida que crescem. 

Quando colhido, o carbono é armazenado em cada peça de mobiliário, casa de madeira e pedaço de papel. E a certificação assegura a gestão responsável das florestas com novas árvores em crescimento, absorvendo mais carbono – um pré-requisito para sustentar o ciclo. Em simultâneo, a certificação exige a manutenção ou melhoria da biodiversidade das florestas e certifica que as comunidades, que dependem destas florestas, beneficiam das operações florestais.
 
A procura do mercado continua a ser a directriz mais forte para o abastecimento de produtos certificados. Para 2013, 55%% dos titulares com certificação indicaram que planeavam incrementar a compra de materiais certificados em relação ao ano de 2011. Há uma outra tendência económica que está a impulsionar a certificação em produtos à base de madeira que é o aumento da consciência ambiental dos consumidores finais. Cada vez mais as empresas procuram atender as expectativas dos consumidores, assegurando-lhes que os seus produtos são produzidos de forma responsável.

H: Quais as principais tendências?

MP: Em termos de tendências da indústria, registamos que o sector de construção verde surgiu como um forte impulsionador da utilização de materiais certificados na construção. Esta é uma tendência também visível no aumento das vendas da madeira e madeira serrada, em particular na Europa e na América do Norte. As vendas de madeira e madeira serrada aumentaram no último ano, especialmente na Europa e na América do Norte, onde o sector de construção verde, o mercado mais forte para a madeira serrada FSC, tem crescido significativamente. São importantes referências como a liderança dos EUA em Energia e Design Ambiental (LEED), a implementação do Código Verde Internacional de Construção (IGCC), que entrou em vigor em 2012, e o Building Research Establishment’s Environmental Assessment (BREEAM) que utiliza a estrutura detalhada dos esquemas de certificação para avaliar operações de gestão florestal responsável. LEED e BREEAM, por exemplo, fornecem créditos para produtos certificados.

Regulamentos sobre a comercialização de madeira e contratos públicos estão a tornar-se alavancas nos principais mercados. Um número crescente de países e regiões, tais como a União Europeia, EUA e Austrália têm legislação que proíbe o comércio e uso de madeira extraída ilegalmente e de produtos derivados. Para o FSC, respeitando todas as leis relevantes, este é o primeiro dos seus 10 princípios e parte do processo de certificação e de auditoria. A certificação reduz drasticamente o risco de comercialização e utilização de madeira ilegal nestes países.

Além disso, os governos nacionais, regionais e locais referenciam o FSC como um apoio importante para cumprirem as suas políticas de contratos públicos, enquanto procuram produtos que suportam a gestão florestal sustentável.
H: Qual o consumo mundial de produtos amigos do ambiente? Que evolução tem registado nos últimos anos?
MP: Não temos possibilidade de indicar o número de produtos com o nosso selo de certificação. No entanto, se tivermos em conta o crescimento significativo da certificação em todo o mundo, é evidente a demanda global por produtos que são provenientes de uma gestão responsável.
O FSC tem atualmente 800 membros em 80 países, 47 representantes nacionais e emitiu certificados cadeia de custódia em 105 países. Na nossa Pesquisa de Mercado Global realizada em 2012, 80% dos portadores de certificados tinha registado uma mudança positiva na procura de produtos certificados e de materiais na sua indústria, enquanto 64% dos nossos titulares de certificados planeavam obter mais certificados para os seus materiais, a fim de responder ao aumento da procura.
H: Os produtos “verdes” são mais caros do que os tradicionais ou esta é uma ideia pré-formada?
MP: Os produtos verdes não são necessariamente mais caros que os tradicionais. A grande maioria dos titulares dos nossos certificados enumeram várias razões para serem certificados, como procura dos clientes, políticas de CSR, consciência ambiental e maior vantagem competitiva à frente de qualquer valor de preço premium que se reflicta num produto mais caro.

No total, 17% dos nossos titulares de certificados (tendo a nossa pesquisa de mercado global de 2012 como referência) afirmaram que a razão mais importante para manterem o seu certificado era poderem sustentar um preço mais elevado.

Mas, mais importante ainda, algumas marcas não posicionam actualmente os seus esforços de sustentabilidade como uma característica do produto principal e, desta forma, um consumidor pode desconhecer que está a comprar um produto com fortes credenciais ambientais, pois este valor não está a ser acrescentado e comunicado de forma tangível.

Também no que diz respeito a um preço premium os números exactos dependem de muitos factores: o sector, a dimensão do comprador, a posição do vendedor no mercado e o tipo de produto.

H: Quais os principais desafios dos produtos verdes, e naturalmente das suas empresas, em Portugal a curto, médio e longo prazo?

MP: É animador o crescimento da certificação FSC em Portugal ao longo dos últimos seis anos. Presente há seis anos em Portugal, mais do que quadruplicou a área florestal certificada atingindo cerca de 335,000 hectares, distribuídos por 19 certificados de gestão florestal. O aumento no número de certificados de “Cadeia de Custódia”, para 125, traduziu um ritmo de crescimento ainda mais intenso, em cerca de 700 %. O actual desafio é aumentar a rotulagem de produtos para os mercados locais e não apenas para os mercados de exportação. O FSC pretende criar consciência e estimular a procura por produtos rotulados ao nível do consumidor.

Outra questão importante é a dimensão, pois áreas florestais pequenas, geridas por proprietários privados representam uma parcela significativa de área não certificada, e a estes proprietários falta-lhes o conhecimento técnico e os recursos financeiros para conseguirem gerar a diferença. No entanto, o FSC está trabalhar para resolver este problema, no sentido de tentar obter ganhos significativos, chegando até estes proprietários, procurando sensibiliza-los para a importância da certificação e orientando-os no desenvolvimento de planos de gestão florestal sustentável, de forma a tornar o processo mais acessível. O processo não vai ser fácil e não poderá ser realizado rapidamente, mas estamos a organizar um número crescente de iniciativas de certificação de grupo que provavelmente será impulsionador.

A médio e longo prazo, o FSC também pretende colaborar mais no desenvolvimento das estruturas políticas tão necessárias para apoiar uma crescente economia verde. O desenvolvimento sustentável deve ser um crescimento económico que incentive a protecção do meio ambiente e o melhoramento da nossa qualidade de vida – tudo sem afectar a capacidade das gerações futuras poderem proceder em conformidade.

Neste cenário, o Governo deve desempenhar um papel fundamental e deve integrar o desenvolvimento sustentável nas suas políticas, na forma como gere os seus edifícios e adquire produtos e serviços.

O FSC gostaria de trabalhar no sentido desenvolver compromissos sustentáveis com o Governo para reduzir o impacto sobre o meio ambiente e melhorar a eficiência operacional.


Fonte: Hipersuper

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