Com a técnica que a MycoTrend, que está sedeada na Católica do Porto,
desenvolveu, é possível “cultivar os cogumelos em vez de recolher só os
que aparecem”. A empresa criada por Nadine Sousa e Miguel Ramos, em
2010, acaba de ser distinguida pelo seu trabalho inovador.
Há vários anos a “estudar os fungos ectomicorrízicos”, os 2 jovens
investigadores assumem actuar com “uma perspectiva de reflorestação”.
Com as ferramentas que a MycoTrend,
que está sedeada na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade
Católica do Porto mas tem o seu centro de produção em Viana do Castelo,
desenvolve, é possível “cultivar os cogumelos em vez de recolher só os
que aparecem”, explica Nadine Sousa, co-fundadora da empresa.
“É uma tecnologia que é algo específica. É uma área que exige alguma
técnica, técnica essa que nós conhecíamos e portanto para nós é fácil”,
sublinhou, à conversa com o P24, a investigadora e aluna de
pós-doutoramento.
“A nossa área de especialidade é estudar os fungos ectomicorrízicos”,
disse, por seu turno, o microbiólogo Miguel Ramos. O nome da área em
que estes 2 investigadores da Escola Superior de Biotecnologia da
Católica actuam pode ser estranho para qualquer leigo, mas Miguel
explica do que se trata.
“Nós micorrizamos as árvores, que, no fundo, não é mais do que ligar
os cogumelos às raízes das árvores e, após essa ligação, começa haver a
relação simbiótica de troca de nutrientes entre a árvore e o fungo e
vice-versa. Depois, desenrola-se o crescimento que vai dar origem aos
cogumelos”.
Desta forma, não é preciso esperar pela natureza para que os cogumelos nasçam e atinjam a maturação necessária à sua colheita.
A principal fonte de rendimento da MycoTrend, que tem “em curso um
processo de obtenção de
patente para uma” das suas tecnologias, provém
da ”venda de árvores micorrizadas” e do “estabelecimento de plantações a
quem pretenda ser produtor de cogumelos silvestres”, explica Nadine
Sousa. “Actualmente, as plantações que possuímos destinam-se apenas a
demonstração, sem intuito comercial”, ressalva, no entanto, a
investigadora.
Nadine e Miguel trabalham juntos “já há alguns anos com os fungos
ectomicorrízicos”, os tais “fungos que estão ligados às árvores”, e o
seu trabalho foi um dos vencedores da edição de 2013 do “Projecto
Dinamização Empreendedorismo Norte e Centro”, um programa de apoio a
projectos de empreendedorismo na área ambiental, desenvolvido pela
Associação APEMETA, com o apoio do SIAC – Sistema de Apoio a Acções
Colectivas e do FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
Nadine Sousa explica que “foi uma sensação fantástica” receber o
prémio. “No fundo, é um incentivo, é darem valor ao nosso projecto, à
ideia e ao trabalho que já desenvolvemos”, comenta.
Pegada verde
A MycoTrend actua com “uma perspectiva de reflorestação”, ou seja,
tenta impulsionar “uma área vital” através da dinamização e valorização
da floresta, explica a investigadora.
“Porque em vez de se ter rendimento da madeira, pela qual tem que se
esperar dezenas de anos às vezes, consegue-se em 2 a 5 anos ter uma
cultura secundária que é o cogumelo que até traz mais valor do que a
madeira a fim de 40 anos”, explicam Nadine Sousa e Miguel Ramos.
“Os cogumelos podem ser considerados uma cultura secundária para a
rentabilização dos povoamentos florestais. No entanto, dado o elevado
valor de venda que os cogumelos silvestres por vezes atingem, numa
plantação produtiva, estes podem facilmente tornar-se a cultura
principal e a madeira passar a ser a cultura secundária”, concretiza
Nadine.
Apesar de Portugal, de um modo geral, ter bons terrenos para o
aparecimento do cogumelo, “nem todos [os cogumelos] se adaptam a
determinadas áreas” refere Nadine Sousa. Alguns, exemplifica a
investigadora, “beneficiam da chuva e outros não”. Ora, e conforme
explica Miguel Ramos, a tecnologia desenvolvida pela MycoTrend “não só
ajuda a adaptar como normaliza o terreno, para que seja adequado à
produção [de cogumelos]“.
Desta forma, é possível limitar os efeitos das alterações climáticas e
minizar as consequências nefastas que “os períodos de seca” têm
habitualmente para o cogumelo.
Essa não foi, no entanto, uma preocupação nos últimos meses. “Este
ano foi um ano óptimo, porque houve chuvas muito cedo e em grande
quantidade, mas foi óptimo para um tipo de cogumelos, porque para outro
tipo não é tão bom”, explica o microbiólogo Miguel Ramos, referindo-se
ao último Outono.
“Nós temos uma parceria com os jardins Silvestre de Viana que são o
nosso parceiro para a produção das árvores micorrizadas”, explicou ainda
ao P24 Nadine Sousa.
Cogumelos medicinais
A empresa sedeada no Porto produz cogumelos, que em alguns casos são
comestíveis, mas planeia vir a produzir cogumelos com características
medicinais. “Há benefícios gastronómicos, portanto vão se deliciar com
esta iguaria. Os que vão produzir vão ter benefícios monetários, porque é
um rendimento para a sua floresta”, explica Miguel Ramos.
A MycoTrend possui ainda uma parceria na área da responsabilidade
social com a associação “Cogumelo Solidário”, um projecto
sócio-empresarial centrado na produção e comercialização de cogumelos gourmet, cujas receitas revertem a favor a Associação dos Albergues Nocturnos do Porto.
Fonte: Porto24
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