terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Produzir cogumelos em vez de esperar que eles cresçam

Com a técnica que a MycoTrend, que está sedeada na Católica do Porto, desenvolveu, é possível “cultivar os cogumelos em vez de recolher só os que aparecem”. A empresa criada por Nadine Sousa e Miguel Ramos, em 2010, acaba de ser distinguida pelo seu trabalho inovador.  

Há vários anos a “estudar os fungos ectomicorrízicos”, os 2 jovens investigadores assumem actuar com “uma perspectiva de reflorestação”.

Com as ferramentas que a MycoTrend, que está sedeada na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto mas tem o seu centro de produção em Viana do Castelo, desenvolve, é possível “cultivar os cogumelos em vez de recolher só os que aparecem”, explica Nadine Sousa, co-fundadora da empresa.

“É uma tecnologia que é algo específica. É uma área que exige alguma técnica, técnica essa que nós conhecíamos e portanto para nós é fácil”, sublinhou, à conversa com o P24, a investigadora e aluna de pós-doutoramento.

“A nossa área de especialidade é estudar os fungos ectomicorrízicos”, disse, por seu turno, o microbiólogo Miguel Ramos. O nome da área em que estes 2 investigadores da Escola Superior de Biotecnologia da Católica actuam pode ser estranho para qualquer leigo, mas Miguel explica do que se trata.

“Nós micorrizamos as árvores, que, no fundo, não é mais do que ligar os cogumelos às raízes das árvores e, após essa ligação, começa haver a relação simbiótica de troca de nutrientes entre a árvore e o fungo e vice-versa. Depois, desenrola-se o crescimento que vai dar origem aos cogumelos”.

Desta forma, não é preciso esperar pela natureza para que os cogumelos nasçam e atinjam a maturação necessária à sua colheita.

A principal fonte de rendimento da MycoTrend, que tem “em curso um processo de obtenção de 
patente para uma” das suas tecnologias, provém da ”venda de árvores micorrizadas” e do “estabelecimento de plantações a quem pretenda ser produtor de cogumelos silvestres”, explica Nadine Sousa. “Actualmente, as plantações que possuímos destinam-se apenas a demonstração, sem intuito comercial”, ressalva, no entanto, a investigadora.

Nadine e Miguel trabalham juntos “já há alguns anos com os fungos ectomicorrízicos”, os tais “fungos que estão ligados às árvores”, e o seu trabalho foi um dos vencedores da edição de 2013 do “Projecto Dinamização Empreendedorismo Norte e Centro”, um programa de apoio a projectos de empreendedorismo na área ambiental, desenvolvido pela Associação APEMETA, com o apoio do SIAC – Sistema de Apoio a Acções Colectivas e do FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Nadine Sousa explica que “foi uma sensação fantástica” receber o prémio. “No fundo, é um incentivo, é darem valor ao nosso projecto, à ideia e ao trabalho que já desenvolvemos”, comenta.

Pegada verde

A MycoTrend actua com “uma perspectiva de reflorestação”, ou seja, tenta impulsionar “uma área vital” através da dinamização e valorização da floresta, explica a investigadora.

“Porque em vez de se ter rendimento da madeira, pela qual tem que se esperar dezenas de anos às vezes, consegue-se em 2 a 5 anos ter uma cultura secundária que é o cogumelo que até traz mais valor do que a madeira a fim de 40 anos”, explicam Nadine Sousa e Miguel Ramos.

“Os cogumelos podem ser considerados uma cultura secundária para a rentabilização dos povoamentos florestais. No entanto, dado o elevado valor de venda que os cogumelos silvestres por vezes atingem, numa plantação produtiva, estes podem facilmente tornar-se a cultura principal e a madeira passar a ser a cultura secundária”, concretiza Nadine.

Apesar de Portugal, de um modo geral, ter bons terrenos para o aparecimento do cogumelo, “nem todos [os cogumelos] se adaptam a determinadas áreas” refere Nadine Sousa. Alguns, exemplifica a investigadora, “beneficiam da chuva e outros não”. Ora, e conforme explica Miguel Ramos, a tecnologia desenvolvida pela MycoTrend “não só ajuda a adaptar como normaliza o terreno, para que seja adequado à produção [de cogumelos]“.

Desta forma, é possível limitar os efeitos das alterações climáticas e minizar as consequências nefastas que “os períodos de seca” têm habitualmente para o cogumelo.
Essa não foi, no entanto, uma preocupação nos últimos meses. “Este ano foi um ano óptimo, porque houve chuvas muito cedo e em grande quantidade, mas foi óptimo para um tipo de cogumelos, porque para outro tipo não é tão bom”, explica o microbiólogo Miguel Ramos, referindo-se ao último Outono.

“Nós temos uma parceria com os jardins Silvestre de Viana que são o nosso parceiro para a produção das árvores micorrizadas”, explicou ainda ao P24 Nadine Sousa.

Cogumelos medicinais

A empresa sedeada no Porto produz cogumelos, que em alguns casos são comestíveis, mas planeia vir a produzir cogumelos com características medicinais. “Há benefícios gastronómicos, portanto vão se deliciar com esta iguaria. Os que vão produzir vão ter benefícios monetários, porque é um rendimento para a sua floresta”, explica Miguel Ramos.

A MycoTrend possui ainda uma parceria na área da responsabilidade social com a associação “Cogumelo Solidário”, um projecto sócio-empresarial centrado na produção e comercialização de cogumelos gourmet, cujas receitas revertem a favor a Associação dos Albergues Nocturnos do Porto.



Fonte: Porto24

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