Instituto
de Saúde Pública da Universidade do Porto apresenta livro que ensina pais a
alimentarem crianças de forma saudável.
Aos
quatro anos, mais de 90% das crianças ultrapassa já “os valores toleráveis de
sal” para a sua idade, com a sopa e o pão a destacarem-se como os alimentos que
mais contribuem para este consumo elevado. Este é o resultado mais alarmante de
uma investigação baseada em dados do projecto Geração XXI, que acompanha uma
extensa amostra de crianças desde o seu nascimento, e que esta quarta-feira foi
apresentado no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP). “O
sal é um problema em Portugal”, sublinhou Carla Lopes, do ISPUP, para quem a
legislação existente (e que estabelece limites para o sal no pão ) talvez já
“não chegue”.
De uma forma muito sintética, a avaliação aos
quatro anos de uma amostra da coorte (grupo de pessoas que nasceram na mesma
altura) do projecto Geração XXI (que avalia quase 8700 crianças desde 2005)
permitiu perceber que o consumo de alimentos de elevada densidade
energética é elevado desde idades precoces e influencia mais tarde um padrão
alimentar mais desequilibrado. Num olhar menos aprofundado, até parece que tudo
estará bem, porque estas crianças ingerem em média 1600 calorias por dia, com
uma componente adequada de proteínas, hidratos de carbono e gordura, além da
maior parte dos micronutrientes, como se conclui da análise de uma subamostra
dos diários alimentares de mais de 2500 crianças.
Os
problemas começam quando se aprofunda a análise. Percebe-se, por exemplo, que
apenas quatro em dez crianças nesta idade atingem as recomendações diárias de
cinco porções de fruta e hortícolas diárias recomendadas pelas Organização
Mundial de Saúde (OMS). De resto, o relatório sobre o consumo alimentar e
nutricional em crianças em idade pré-escolar que resultou deste trabalho do
ISPUP prova também que nesta idade o consumo da carne é já muito superior ao de
peixe (42% consome carne diariamente e 9%, pescado), ainda que o consumo de
carnes brancas suplante o de carnes vermelhas, excluindo charcutaria.
Preocupante
é também o facto de mais de metade destas crianças (52%) consumirem
refrigerantes e néctares diariamente e 65% comerem bolos e doces pelo
menos uma vez por dia. A agravar, quase três quartos ingere snacks salgados
(pizza, hambúrguer, batatas fritas e outros snacks de pacote) entre uma a
quatro vezes por semana. O refrigerante mais consumido é o ice-tea, com
um quinto das crianças nesta idade a consumir esta bebida todos os dias.
“Os pais pensam que estão a dar chá aos filhos”, lamenta Carla Lopes.
“São
dados que nos devem fazer pensar”, defende o presidente do ISUPUP e coordenador
científico do projecto Geração XXI, Henrique Barros, que adiantou que outras
avaliações entretanto feitas a esta coorte permitiram já perceber que é elevada
a proporção de crianças com uma pressão arterial demasiado alta.
Na
educação para uma alimentação saudável, a família tem um papel crucial, mas
também o jardim de infância tem um papel relevante, destacaram a propósito os
especialistas, que notam que “ padrões sociais mais desfavoráveis se relacionam
com um consumo alimentar mais desadequado”.
A
boa notícia é a de que este relatório acabou por dar o mote para um livro. Os
pais e cuidadores de crianças em idade pré-escolar passam agora a ter uma
nova ferramenta ao seu dispor, o e-book “Da mesa à horta: aprendo a
gostar de fruta e vegetais!”, um guia prático que pode ser descarregado em www.ispup.up.pt. A elaboração deste obra foi
possível graças ao projecto financiado pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia e contou ainda com o apoio da Direcção-Geral da Saúde (DGS).
Louvando
a iniciativa, o pediatra António Guerra lembrou que aprendizagem de uma
alimentação correcta é muito importante “neste período-janela tão sensível” e
aconselhou as pessoas “a serem pedagógicas e criativas”, a diversificarem,
“sem pressionarem”. Também Pedro Graça, coordenador do Programa Nacional
para a Promoção da Alimentação Saudável da DGS, elogiou o livro e
adiantou ser sua intenção promover a sua divulgação. “Estes dados são
relativamente comuns ao que se passa noutros países do Sul da Europa, a
diferença está no sal, temos que ganhar a luta contra o sal”, destacou o
responsável.
Fonte: Publico
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