segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Centenária. O freguês pediu peixe fresco?

Um designer, uma ilustradora, um artista plástico e uma peixeira querem que Lisboa se convença de que não há só sardinhas no mar

Na montra há um ruivo tão fresco que por pouco não pisca os olhos às freguesas que passam. E um pampo que se apresenta como melhor amigo dos clientes. A conta da sedução está desenhada na parede pintada de azul: “Isto é uma posta de pampo + rodelas de cebola + azeite do bom + batatas + mandar tudo para o forno = fim da história.” Tão simples como uma conta de somar, assim se cozinha o peixe nesta Peixaria Centenária: a soma é obra do designer Rui Quinta, 33 anos, da ilustradora Joana Mateus, 24, do artista plástico Filipe Alves, 33, e da peixeira Tânia Silva, 26. 


“Não queríamos criar uma peixaria moderna. Não podia ser muito escura nem ter um ar de sítio onde as pessoas não se sentem à vontade. Queríamos uma peixaria onde a minha avó se sentisse bem e pudesse comprar peixe, à moda antiga, com ar de mercado e onde entre tanto gente nova como as senhoras do bairro. Além disso, que tivesse preços interessantes”, conta Joana Mateus. 

Na Centenária, o peixe não é tabu: na porta 55 da Praça das Flores, em Lisboa, cruzam-se velhotas de bairro, curiosas com a loja nova (abriu a 26 de novembro), e discutem-se rumores. Há até quem diga que o dono da Peixaria é um ator famoso. Mas esta ideia - a ideia de abrir uma loja que vende peixe fresco e tudo aquilo que o acompanha - não é nova: simplesmente saiu agora do papel, onde estava desenhada há anos.
Rui Quinta tinha uma pasta no computador com o nome Peixaria Centenária desde janeiro de 2010. A ideia foi ganhando forma à medida que repensava o negócio da família - os avós e os pais sempre estiveram ligados à pesca e à venda de peixe, em Peniche - e publicava as conclusões no projeto Fishing for ideas (veja os resultados aqui). Só precisava de encontrar o sítio ideal para a realizar.

O número 55 vagou em agosto, no mesmo mês em que começou a trabalhar com os sócios, Joana Mateus e Filipe Alves. “Apresentámos o projeto à Santa Casa - o edifício é deles - e eles aceitaram. Entre agosto e novembro pensámos, criámos e executámos o projeto. Abrimos as portas da Peixaria Centenária no dia 26”, conta Rui Quinta. Investiram entre 20 e 30 mil euros, valor que pensam recuperar dentro de dois anos.
Desde a abertura, pode dizer-se que a peixaria é um trabalho das 08h30 às 20h30, mas com horas extras. É que ainda de madrugada o avô do Rui vai à lota de Peniche escolher os primeiros peixes para vender em Lisboa. Depois, um pouco mais tarde, é o pai do designer que escolhe e envia o resto das encomendas a partir do Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL). 

Às 08h30 em ponto, Tânia Silva abre a porta da Peixaria e começa a receber os clientes. Exceto à segunda-feira, que ao domingo os pescadores descansam. “Queremos criar o hábito de compra de peixe fresco nas pessoas que vêm de propósito e também nas que ligam a reservar e passam a buscar ao fim do dia. Além de conseguirmos tudo isto, percebemos que estamos a responder a uma necessidade: há espaço para todos os clientes na nossa peixaria”, acrescenta Rui Quinta. 

Joana Mateus tem mais a dizer: “Percebemos que as pessoas mais novas têm uma ideia errada do peixe: têm medo que pingue, que suje, que fique mal cozinhado. Aqui também queremos ser divertidos e didáticos.” Por isso, não vendem só um robalo; vendem antes um robalo de mar que é “homenzinho para alimentar uma daquelas famílias à antiga com meia dúzia de irmãos” - como anunciam em post its associados ao dito exemplar de proporções respeitáveis. Isso e molhos. 

É que a Peixaria vai lançar, em breve, todo o tipo de molhos para acompanhar o peixe, para adicionar e para misturar. E haverá ainda peixe marinado, vendido em broa de milho. 

As novidades não se esgotam aqui e agora. Nos planos dos quatro amigos e sócios estão novos conceitos que preferem manter em segredo por agora; e talvez a multiplicação de peixes e peixarias. Tudo para facilitar a vida aos fregueses.




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