Um designer, uma ilustradora, um artista plástico e uma peixeira querem que Lisboa se convença de que não há só sardinhas no mar
Na montra há um ruivo tão fresco que por
pouco não pisca os olhos às freguesas que passam. E um pampo que se
apresenta como melhor amigo dos clientes. A conta da sedução está
desenhada na parede pintada de azul: “Isto é uma posta de pampo +
rodelas de cebola + azeite do bom + batatas + mandar tudo para o forno =
fim da história.” Tão simples como uma conta de somar, assim se cozinha
o peixe nesta Peixaria Centenária: a soma é obra do designer Rui
Quinta, 33 anos, da ilustradora Joana Mateus, 24, do artista plástico
Filipe Alves, 33, e da peixeira Tânia Silva, 26.
“Não
queríamos criar uma peixaria moderna. Não podia ser muito escura nem
ter um ar de sítio onde as pessoas não se sentem à vontade. Queríamos
uma peixaria onde a minha avó se sentisse bem e pudesse comprar peixe, à
moda antiga, com ar de mercado e onde entre tanto gente nova como as
senhoras do bairro. Além disso, que tivesse preços interessantes”, conta
Joana Mateus.
Na Centenária, o peixe
não é tabu: na porta 55 da Praça das Flores, em Lisboa, cruzam-se
velhotas de bairro, curiosas com a loja nova (abriu a 26 de novembro), e
discutem-se rumores. Há até quem diga que o dono da Peixaria é um ator
famoso. Mas esta ideia - a ideia de abrir uma loja que vende peixe
fresco e tudo aquilo que o acompanha - não é nova: simplesmente saiu
agora do papel, onde estava desenhada há anos.
Rui
Quinta tinha uma pasta no computador com o nome Peixaria Centenária
desde janeiro de 2010. A ideia foi ganhando forma à medida que repensava
o negócio da família - os avós e os pais sempre estiveram ligados à
pesca e à venda de peixe, em Peniche - e publicava as conclusões no
projeto Fishing for ideas (veja os resultados aqui). Só precisava de encontrar o sítio ideal para a realizar.
O número 55 vagou em agosto, no mesmo mês
em que começou a trabalhar com os sócios, Joana Mateus e Filipe Alves.
“Apresentámos o projeto à Santa Casa - o edifício é deles - e eles
aceitaram. Entre agosto e novembro pensámos, criámos e executámos o
projeto. Abrimos as portas da Peixaria Centenária no dia 26”, conta Rui
Quinta. Investiram entre 20 e 30 mil euros, valor que pensam recuperar
dentro de dois anos.
Desde a abertura,
pode dizer-se que a peixaria é um trabalho das 08h30 às 20h30, mas com
horas extras. É que ainda de madrugada o avô do Rui vai à lota de
Peniche escolher os primeiros peixes para vender em Lisboa. Depois, um
pouco mais tarde, é o pai do designer que escolhe e envia o resto das
encomendas a partir do Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL).
Às
08h30 em ponto, Tânia Silva abre a porta da Peixaria e começa a receber
os clientes. Exceto à segunda-feira, que ao domingo os pescadores
descansam. “Queremos criar o hábito de compra de peixe fresco nas
pessoas que vêm de propósito e também nas que ligam a reservar e passam a
buscar ao fim do dia. Além de conseguirmos tudo isto, percebemos que
estamos a responder a uma necessidade: há espaço para todos os clientes
na nossa peixaria”, acrescenta Rui Quinta.
Joana
Mateus tem mais a dizer: “Percebemos que as pessoas mais novas têm uma
ideia errada do peixe: têm medo que pingue, que suje, que fique mal
cozinhado. Aqui também queremos ser divertidos e didáticos.” Por isso,
não vendem só um robalo; vendem antes um robalo de mar que é “homenzinho
para alimentar uma daquelas famílias à antiga com meia dúzia de irmãos”
- como anunciam em post its associados ao dito exemplar de proporções
respeitáveis. Isso e molhos.
É que a
Peixaria vai lançar, em breve, todo o tipo de molhos para acompanhar o
peixe, para adicionar e para misturar. E haverá ainda peixe marinado,
vendido em broa de milho.
As
novidades não se esgotam aqui e agora. Nos planos dos quatro amigos e
sócios estão novos conceitos que preferem manter em segredo por agora; e
talvez a multiplicação de peixes e peixarias. Tudo para facilitar a
vida aos fregueses.
Fonte: Dinheiro Vivo
Sem comentários:
Enviar um comentário