As organizações de agricultores consideram que as medidas de incentivo à
poupança de água que a ministra da Agricultura quer incluir no próximo
Programa de Desenvolvimento Rural são difíceis de concretizar e acusam
Assunção Cristas de "demagogia" e "propaganda".
A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e a Confederação
Nacional da Agricultura (CNA) foram apanhadas de surpresa pelo anúncio
de Assunção Cristas, que pretende dar "majorações a quem tem e faz boas
práticas de gestão da água", e têm dúvidas sobre as suas vantagens.
"Não tenho conhecimento da medida e parece-me que é de difícil
execução", declarou o presidente da CAP, João Machado, observando que a
ministra tem anunciado "demasiados incentivos" para fundos que são
limitados.
"Cada vez que falamos de majorações significa que vai haver menos
projetos a poderem candidatar-se. A minha preocupação é que se esteja a
fazer um Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) de exceções", disse o
dirigente da CAP à Lusa.
João Machado sublinhou ainda que se trata de uma área onde os
agricultores "já têm um grande incentivo para o uso eficiente, porque a
água é cara e tem de se pagar" e acusou a ministra de fazer "demagogia
política à volta do novo quadro de fundos comunitários à custa dos
agricultores".
Já o dirigente da CNA, João Dinis, lamentou que as medidas de apoio à
pequena agricultura familiar tenham sistematicamente ficado de fora
após terem sido sugeridas nas reuniões onde foram deatidas as
prioridades do novo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR).
Quanto ao incentivo ao uso eficiente da água, sendo "teoricamente um
objetivo com o qual toda a gente está de acordo", João Dinis teme que
seja mais uma medida "de pura propaganda" ou destinada a promover o
"agronegócio".
"É de recear que atrás desse objetivo venham mais majorações para a
agricultura de tipo intensivo, para a eucaliptização do regadio, a vinha
intensiva e o olival intensivo das grandes empresas", criticou,
acrescentando que estas empresas vão "gastar mais água com ajudas
públicas por trás".
São medidas que visam dar majorações a quem tem e faz boas práticas
de gestão da água, porque temos consciência de que o regadio é
extraordinariamente importante, e deve ser feito de uma forma sustentada
e amiga do ambiente", disse aos jornalistas Assunção Cristas à margem
da visita que efetuou à exposição sobre a Dieta Mediterrânica, em
Tavira.
De acordo com Assunção Cristas, a medida, que será submetida a
aprovação da Comissão Europeia "é uma das medidas relevantes do próximo
Programa de Desenvolvimento Rural, juntamente com outra que visa a
proteção de culturas tradicionais".
"Gastando aquilo que é estritamente necessário faz parte também da
nossa estratégia de adaptação às alterações climáticas", sublinhou a
governante, acrescentando que o programa "deverá ser enviado formalmente
à Comissão Europeia ainda durante este mês".
Segundo a ministra, a gestão da água "é importante porque os produtos
hortícolas, frutícolas precisam de água, sobretudo numa altura em que o
clima se torna cada vez mais seco, e é preciso utilizar a água de uma
forma muito eficiente muito cuidada".
Assunção Cristas afirmou que Portugal "tem feito um trabalho notável
do ponto de vista de diminuição do desperdício de água porque hoje as
técnicas de irrigação são muito mais sofisticadas e permitem regar mais
hectares com menos água".
"O objetivo é, precisamente, ajudar a que essas boas práticas sejam
cada vez mais generalizadas e possam ser um caminho de uso muito
sustentável", concluiu.
Fonte: Noticias ao Minuto
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