Portugal, nos países desenvolvidos, está entre aqueles que apresentam
menor obesidade e menor consumo de 'fastfood', segundo um estudo
divulgado Organização Mundial da Saúde (OMS), que estuda a obesidade,
hábitos de consumo e a liberalização comercial de bens alimentares.
Este é o primeiro estudo que investiga o papel da liberalização dos
mercados no consumo de comida rápida ('fastfood') e no aumento do índice
de massa corporal (IMC), incluindo pela primeira vez o número de
transações da chamada 'fastfood'.
"Portugal encontra-se entre os países com menor níveis de
consumo de comida rápida e com menor IMC", diz o estudo da OMS, que toma
por referência dados de 2008, para os diferentes países, altura em que
Portugal apresentou o segundo menor número de "transações 'per capita',
entre os países selecionados neste estudo", segundo o professor Roberto
De Vogli, da Universidade da Califórnia (UC Davis), principal autor do
relatório.
O estudo analisou os dados de 1999 a 2008, de 25 países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), com o
objetivo de observar o vínculo entre a obesidade e a liberalização do
mercado de bens alimentares.
"O nosso estudo indica que todos países conheceram um aumento no
consumo de comidas rápidas e do IMC [dos seus cidadãos], mas os países
que desregularam gradualmente e minimamente as suas economias,
conheceram um incremento mais lento do consumo de comida rápida e do
IMC", disse à Lusa Roberto De Vogli.
No caso de Portugal, a economia, ao longo deste período, esteve ainda
protegida em termos de regulação alimentar, o que minimizou o aumento
da obesidade e do consumo de 'fastfood'. "Portugal é a quarta economia
mas regulada entre os países da OCDE", disse o professor, tendo em conta
o período em causa.
Portugal aplicou políticas de mercado mais restritivas, sendo
possível estabelecer uma relação com um impacto menor, nos níveis de
obesidade, ao contrário de outros países do estudo, dominados por
oligopólios alimentares, nos quais as políticas de liberalização,
incluem entre outros, menos subsídios agrícolas, menos taxas, menos
controlo dos preços e fiscalizações débeis, em termos alimentares.
Roberto De Vogli, em declarações à Lusa, explica, por exemplo, que
"Portugal tem um IMC muito inferior aos países anglo-saxónicos, como os
Estados Unidos, Canadá e Austrália, com mercados mais desregulados, e
onde o consumo de comida rápida e a prevalência da obesidade são
superiores".
Por outro lado, as explorações agrícolas em Portugal tendem a ser
mais pequenas, sendo geralmente mais saudáveis, em relação aos países
com economias dominadas por grandes grupos económicos agroalimentares.
"Países com explorações agrícolas de tamanho menor tendem a registar
aumentos menores no consumo de comidas rápidas e na obesidade",
esclarece o professor Roberto de Vogli.
O investigador adianta, no entanto, que "é preciso mais
investigação", para se chegar a uma conclusão efetiva, sobre a relação
dos fatores, embora tudo indique que "um sistema de agricultura baseado
em pequenas explorações e com setores mais protegidos", em termos de
regulação e fiscalização, "possa explicar por que motivo o consumo de
comida rápida é baixo em Portugal".
As conclusões gerais deste estudo indicam que existe uma relação
direta entre políticas pró liberalização dos mercados, o aumento de
consumo de comida rápida e de obesidade.
O estudo apela, por isso, à aplicação de medidas que melhorem a
etiquetagem dos alimentos e que limitem a produção e o comércio de
alimentos processados, como a chamada "fastfood", e a sua publicidade.
Fonte: Noticias ao Minuto
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