Biscoitos cobertos com paté de insetos preparados pela designer
portuguesa Susana Soares fizeram as delícias dos visitantes na abertura
de uma exposição no Museu de Arte Moderna do Luxemburgo (Mudam), que
reúne sete 'designers' portugueses e seis luxemburgueses.
De luvas e
avental, Susana Soares preparou várias "fornadas" de biscoitos cobertos
com um paté à base de farinha de larvas de escaravelhos, gafanhotos e
louva-a-deus "produzidos para consumo humano", recorrendo a uma
impressora 3D, uma tecnologia que a designer portuguesa desenvolve na
London South Bank University.
A ideia do projecto, baptizado
"Insects au Gratin", é "encorajar as pessoas a comer insectos, uma
alternativa ecológica à carne, utilizando uma nova tecnologia para os
cozinhar e os tornar mais apelativos", disse a designer portuguesa à
Lusa enquanto preparava mais uma dose de aperitivos para a enorme fila
de visitantes que aguardavam a sua vez de provar a exótica iguaria,
frente à "cozinha" improvisada no museu luxemburguês.
"O que
estamos a ver é uma bolacha normal, e a impressora 3D está a imprimir
por cima um paté de insectos com queijo-creme e pimenta caiena",
explicou a designer, frisando que o aperitivo teve boa aceitação entre
as centenas de pessoas que visitaram a exposição com designers
portugueses, sobre o impacto da crise e do esgotamento dos recursos no
design.
"O que as pessoas dizem é que não sabe a insectos, mas
também ninguém sabe muito bem o que é o sabor de insectos. As pessoas
tentam sempre fazer uma comparação com o que conhecem, mas não há aqui
um sabor muito forte: o sabor mais forte é o do queijo que foi usado
como base".
A ideia de produzir farinha de insectos a partir de
animais desidratados, que depois pode ser misturada com água, manteiga
ou até queijo-creme, surgiu-lhe quando assistiu a uma conferência TED
Talk em 2010 com o entomologista Marcel Dicke, que propunha o seu
consumo como forma de reduzir o impacto ecológico da criação de animais e
combater a fome no mundo.
Consumidos em países asiáticos e
considerados uma "proteína do futuro", os insectos "têm um valor
nutricional muito elevado", não só em proteína, mas em nutrientes como o
ferro, cálcio e magnésio, explicou a designer.
"Há imensas
directivas da Organização Mundial de Saúde para consumir menos carne, e
os insectos têm o dobro da proteína que a mesma quantidade de carne.
Quatro grilos têm o mesmo cálcio que um copo de leite, e são mais fáceis
de produzir do que uma vaca, que consome muita água e imensos
recursos", disse Susana Soares.
Licenciada pela Escola Superior de
Artes e Design das Caldas da Rainha, com um mestrado no Royal College
of Art de Londres, a designer portuguesa, de 37 anos, está a desenvolver
um projeto com engenheiros alimentares que poderá vir a ser
comercializado em breve.
"Estamos a criar barras de cereais e pão
com insectos, e estamos neste momento a criar uma empresa para
comercializar produtos com farinha de insecto", disse à Lusa.
Cerca
de seiscentos visitantes estiveram na quarta-feira na inauguração da
exposição "Never for Money, Always for Love", o que constitui "um
recorde de afluência" no Mudam, disse à Lusa o responsável de
comunicação do museu, Valerio D'Alimonte.
Integrada na bienal de
design da cidade do Luxemburgo, a exposição, que questiona o papel do
design em tempo de crise e de esgotamento dos recursos naturais, foi
pensada como "um intercâmbio entre os designers portugueses e
luxemburgueses".
Entre os trabalhos apresentados ontem no
Luxemburgo, contam-se capas de cadeiras que permitem transformá-las num
novo móvel, de forma acessível, um serviço de chá da Vista Alegre feito a
partir de um único molde, para reduzir os custos de produção, e peças
que recuperam materiais tradicionais portugueses como a cortiça, o burel
ou mesmo garrafões.
A exposição, que conta com o apoio da
Embaixada de Portugal no Luxemburgo e do Instituto Camões, pode ser
vista até 15 de Junho, e vai incluir visitas guiadas em português ao
sábado, nos dias 19 e 26 de Abril e 3 e 10 de Maio.
Fonte: SOL
Sem comentários:
Enviar um comentário